sábado, 12 de dezembro de 2009

FRAGA E SEUS DOIS DISCURSOS


Alberto Fraga é um sujeito esperto, daqueles que não dá ponto sem nó. Nasceu em 02 de junho de 1956, tornou-se policial militar no Distrito Federal, sendo tenente-coronel reformado. Em 1998 tentou eleição para Deputado Federal e ficou na primeira suplência, tendo assumido o mandato parlamentar em algumas oportunidades. Em 2002 foi eleito deputado federal com quase trinta mil votos. Em 2006, novamente se submeteu ao escrutínio popular, e novamente foi eleito, tendo obtido mais de noventa mil votos.
A campanha de 2006 foi bastante sofisticada e estruturada. O gasto financeiro influiu de forma significativa para que o seu eleitorado triplicasse. Nunca foi destaque em nada, exceto no que tange as habilidades políticas. Sempre escolheu o lado mais vantajoso e sempre tendo em mente o incremento de sua musculatura eleitoral. Sua oratória é fraca, sua densidade intelectual não é expressiva, mas, sem dúvida, já merece o título de raposa política. É um político tradicional, encaixando-se no conceito popular sobre os políticos.
Na imagem acima, vê-se uma de suas características mais peculiares e marcantes. Está atrás do poder de plantão, escondido nas sombras do poder. Foi assim com Roriz, é assim com Arruda. A imagem é muito interessante. Arruda, de feições constrangidas, estava exposto à humilhação. Anunciava a sua desfiliação dos Democratas para evitar a sua expulsão. Arruda, apesar de ainda ostentar a caneta e o Diário Oficial em suas mãos, é um morto-vivo, a imagem da decadência política manchada por evidências irrefutáveis de corrupção. Arruda se tornou o mais recente símbolo do abjeto, do asqueroso, da vilania, tornou-se o símbolo da putrefação moral da classe política brasileira.
Mesmo assim, com todo o simbolismo negativo que margeia Arruda, Alberto Fraga se postou atrás do decrépito mandatário distrital. Vê-se a sombra do quase ex-governador à direita de Fraga. Por quê? Tantos outros abandonaram o barco. Augusto Carvalho, ex-paladino da moralidade, sumiu do mapa. Filipelli esperou por alguns dias, quando viu que a decadência de Arruda era inexorável, o abandonou. Seus correligionários, amigos de partido, pediram a cabeça de Arruda. Quando a tiveram, comemoram em um dos restaurantes mais caros da Capital. Com exceção de Fraga, apenas figuras inexpressivas permanecem ao lado de Arruda.
Quem, em sã consciência, ligaria sua imagem ao do desprezível político, pilhado com a boca na botija, recebendo dinheiro ilícito. Quem? Por quê? Alberto Fraga, por quê?
A explicação pode ser obtida no passado recente de Augusto Fraga. Não é a primeira vez que se liga ao lado negativo do debate. A experiência pessoal diz que ele deve ficar ao lado de Arruda, ainda que tal postura, aos olhos mais desavisados, possa parecer um suicídio político.
Em 2005, o Deputado Federal Augusto Fraga foi o líder da frente parlamentar pelo direito à legítima defesa. Defendeu, com entusiasmo, a campanha que comandou o NÃO em referendo sobre a proibição da venda de armas e munições no Brasil. Era uma posição contrária ao posicionamento dos especialistas em segurança pública. Todos os movimentos sociais que lutam pela paz eram favoráveis ao SIM, que a venda de armas e munições fossem proibidas no Brasil. Fraga, correndo o risco da antipatia, defendeu o NÃO, defendeu e ganhou.
Ganhou o apoio dos belicistas, da indústria armamentista e dos comerciantes de armas. O apoio se traduziu em apoio financeiro para a campanha de 2006. O resultado, sua força eleitoral triplicou. Saiu de pouco menos de trinta mil votos em 2002 para mais de noventa mil em 2006. Ser antipático rendeu voto, rendeu dinheiro e apoio para a campanha. Valeu contrariar os especialistas, valeu defender um discurso desprovido de valores axiológicos. O discurso vazio e fácil seduziu a massa inculta, aquela que não lê jornal, mas que representa 94 % da população, segundo Durval Barbosa, o algoz de Arruda.
A experiência o ensinou que valia a pena ficar do lado grosseiro, que a opinião da massa pensante não é tão importante. Os colunistas, intelectuais, movimentos sociais e a voz da técnica não seduzem a massa.
Voltando ao presente, Fraga se postou ao lado de Arruda, chamou seus companheiros de partido de covardes. Assim, ganhou a simpatia do espólio eleitoral de Arruda. Poderá dizer, não traio os meus amigos. Os arrudistas, certamente, se lembrarão do gesto. Aqueles que se beneficiaram dos programas sociais do governo, aqueles que se aboletaram em cargos públicos, os que se locupletaram com as dispensas de licitação, os que alocaram recursos nas vestimentas (meias e cueca), a professora que trancou a porta e encheu a bolsa de dinheiro tirado dos remédios das crianças, da merenda escolar e os que rezaram ao deus da pilantragem para que abençoasse a vida do corruptor sempre poderão dizer, Alberto é fiel, por maior que seja a desgraça e a execração pública que possamos ser expostos caso pegos no charco da ilicitude.
Fraga é fiel aos amigos, não aos eleitores que manipula para se perpetuar no poder. Vê, agora, a possibilidade de herdar o capital político de Arruda e de quem sabe, no futuro sonhar em ser governador, de ser senador e de sair da sombra do poder, de se tornar poder. A perversidade de tal pensamento não importa, pois poucos a identificarão. O expediente oportunista e contrário às necessidades da população deveria ser visto como perfídia, mas será encarado como lealdade.
A falta de coerência de pessoas como Alberto Fraga é gritante. O que é dito hoje pode ser desdito amanhã. Um exemplo eloqüente da mudança de comportamento segundo a própria conveniência é o discurso adotado por Fraga quando do episódio deplorável do mensalão do governo federal do PT e o discurso adotado no mensalão do DEM, partido a que é filiado e que elegeu o hoje morto-vivo Arruda, de quem Fraga espera receber como herança os votos e influências que estarão soltos no ar quando do último suspiro de Arruda no poder.
Em 18 de julho de 2005, na tribuna da Câmara Federal, Alberto Fraga, bradou contra o mensalão petista. Calha aqui deixar claro que os gritos contra a corrupção do PT eram e são justos. O errado é não tê-los repetido contra o desgoverno Arruda do DEM.
Fraga, sobre o mensalão petista, comentando entrevista de Lula ao Fantástico, da TV Globo, salientou que “Quanto à resposta do Presidente Lula - se o Partido dos Trabalhadores usava sempre o caixa 2 - que, sistematicamente, todos os partidos utilizavam essa prática, não foi a melhor maneira de S.Exa. se isentar desse mar de lama que, infelizmente, tomou conta do País”. Arruda, filmado recebendo dinheiro de propina, disse que era dinheiro de Caixa 2. Fraga, convenientemente, agora disse que seu partido foi covarde ao forçar a desfiliação de Arruda. O caixa 2 passou a ser aceitável.
Fraga disse mais: “Li, com muita tristeza, a reportagem do jornal O Estado de S.Paulo na qual consta relação de mais ou menos 20 Parlamentares que receberam o mensalão. Confesso que fiquei surpreso quando vi alguns nomes, mas não me espantei em relação a outros. Inclusive, a Casa sempre fez comentários referentes a certas pessoas que têm extensas negociações com o Governo. O que quero dizer? Que a Casa por meio de suas CPIs precisa, urgentemente, dar uma resposta à sociedade. Precisa urgentemente - e não sob a batuta da imprensa, que tem feito o excelente papel de denunciar - tomar providências. Não podemos consentir que nomes de Parlamentares estejam nas páginas dos jornais, sem que haja provas consistentes contra eles. Isso é ruim”. Arruda, Prudente, Brunelli, Eurides Brito, Dr. João Luiz, Luiz França e outros foram filmados recebendo dinheiro, mas são seus amigos, portanto, tais fatos não precisam de resposta urgente. Benício Tavares, parlamentar do DF, acusa o próprio Alberto Fraga de operar um esquema de corrupção na Secretaria de Transportes do DF, mas ele, Alberto, se indigna apenas contra a covardia dos seus correligionários em expulsar o corrupto Arruda.
Os covardes, então, são José Agripino Maia, Demóstenes Torres, Ronaldo Caiado, Marco Maciel e demais integrantes da cúpula do DEM. Arruda, que roubou milhões de reais da boca dos brasilienses, é apenas uma vítima da covardia dos Democratas (e tucanos, que exigiram a expulsão de Arruda). De fatos a cúpula do DEM é covarde, pois diante das afirmações feitas por Alberto Fraga, de que seus correligionários são covardes, de que foram traiçoeiros deveriam também expulsá-lo do partido. Mas não o farão, pois o próprio Alberto Fraga disse aos jornalistas que “Vocês vão ver que aqueles que estão se passando por paladinos da moral não têm condição para isso”. Alberto Fraga acuou, assim, José Agripino Maia, Ronaldo Caiado, Demóstenes Torres e toda a cúpula do DEM, que, aliás, se queda silente diante da investida de Fraga, que agiu como os cavalos da PMDF ao atacar estudantes que protestavam contra a corrupção. Lembro, aliás, que Fraga, tenente-coronel reformado da Protetora dos Mensaleiros do DF – PMDF, ainda mantém ingerência na polícia local.
O resumo da ópera é que Alberto Fraga tem futuro na política. Não é de se espantar que venha a ser o próximo governador do Distrito Federal, ou que seja candidato a vice-presidente da república na composição DEM-PSDB. Quem sabe até presidente, afinal, na política, não se cresce com ética, com zelo pelo bem comum, mas com esperteza e senso de oportunismo. Tentei ouvir Fraga sobre denúncias que envolveriam sua secretaria, mas ele não mais quis me receber. Interessante...

Um comentário:

  1. Parabéns. Poucos são corajosos a ponto de dizer a verdade sobre os políticos; especialmente este. Precisamos de mais pessoas como você, que mostra os fatos e opina sem medo. Mais parabéns!!
    Eider Marcos

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